COLUNAS - COMPORTAMENTO


Uma enchente altamente avassaladora
24/05/2024 00:00:00

Quando me torno receptora de uma enxurrada de emoções e sentimentos, para voltar a funcionar melhor e de maneira mais organizada, necessito de um tempo. No ápice de sentir tanto e tudo fica difícil escrever um texto, por exemplo, que seja legível e compreensível. Me abstive de escritas técnicas ou organizadas para simplesmente sentir e dar conta de tudo. Só agora consegui pôr no papel acerca dos ocorridos no nosso estado, que alagou a mente e cidades inteiras.

Literalmente uma enxurrada que levou não só bens materiais, mas histórias, projetos de vida e não só projetos, vidas também. Um luto imensurável para todas as pessoas! Há quem precise dar conta do luto de pessoas que vieram a falecer e quem não, luto por tudo aquilo que ficou soterrado, sujo, obscuro, aquilo que se foi água abaixo. Como diz o ditado “vão-se os aneis e ficam os dedos”, porém, para conquistar os aneis e tudo mais há muito investimento: Financeiro e, sobretudo, afetivo. Há dor e muita dor. E o luto vai permanecer como uma ferida aberta por um tempo, que não cicatrizará assim no mais mesmo depois que não houver mais chuva, pois a elaboração deste processo requer que passemos por várias etapas, entre elas, negação, revolta e, enfim, a aceitação. E é o que mais torço, que haja resiliência suficiente para que haja resignação o bastante e consigam recomeçar sob o efeito de sequelas emocionais que manterão ligados todos os botões de alerta, com os instintos de preservação – a tal ansiedade – a flor da pele. Uma nuvem no céu poderá ser gatilho para vários e por vários meses ou anos. Serão muitas coisas para serem administradas concomitantemente.

São incalculáveis os prejuízos e quando falo em prejuízos eu me refiro a todos: Os materiais e os psicológicos!

Não tem como ficar ileso a tudo isso. E quem está vivendo como se nada estivesse acontecendo, requer atenção por tamanha frieza. Isto sim não é normal. Para pessoas com consciência e aspectos mentais preservados, no mínimo, é esperado o despertar da tão falada empatia.

Mesmo nós que estamos seguros fisicamente fomos e estamos sendo afetados. Simplesmente pelo fato de sermos seres humanos, seres gregários que tem predisposição a viver em grupo e cooperar uns com os outros e que, por isso, o que acontece com o outro não é um fato isolado e “respinga” na sociedade de forma geral. E temos ainda a sensação de dilaceramento porque é gente da gente, é o nosso tão amado estado, o nosso chão Rio Grande do Sul que está doído, machucado, vulnerável, enfraquecido... E isto, obviamente, desperta em nós – junto à empatia – outros sentimentos que se misturam e nos fazem perceber, sobretudo, a nossa fragilidade. Somos frágeis, num piscar de olhos tudo muda e de forma dramática percebemos que não temos o controle das coisas. Vivemos tentando ter o controle de tudo para que isso nos dê a sensação de segurança e previsibilidade, mas fatos como estes nos mostram que não é bem assim despertando muito medo, impotência, ansiedade e angústia. É quando todos nós, vítimas ou não das enchentes, percebemos que estamos no mesmo barco e sob vulnerabilidade.

E não é por acaso que existe uma área de estudos focados em “primeiros socorros psicológicos”, quando após a vivência de um trauma, de um jeito mais urgente é preciso cuidar do que restou para que se consiga simplesmente a mínima organização mental (na medida do possível) para seguir, apesar dos pesares.

Vai passar, tudo passa e um dia a enchente de 2024 que assolou o Rio Grande do Sul será contada nos livros de história e geografia.

Porém enquanto estamos vivenciando a fase aguda da crise é importante oferecer ajuda e promover autoajuda! Temos a opção de viver tudo isso como espectadores e de forma passiva sentir a dor ou tomarmos nosso lugar neste cenário e ocupar um lugar ativo que beneficiará o outro e a nós mesmos. Absolutamente para o bem de todos não é hora de ficarmos parados. Para lidarmos com o caos e sair dele é preciso movimento e atitude. Sempre há o que fazer, por menor que seja. E quando fazemos isto, além de exercer a solidariedade, funciona também como uma ferramenta de suporte emocional, minimizando os sentimentos de culpa (por estarmos bem), de angústia e ansiedade. É preciso compor e recompor-se, não há outra alternativa.

Afinal, “Mostremos valor, constância nesta ímpia e injusta guerra...”

Sempre cantei com louvor o Hino, mas nunca me tocou tanto e nunca fez tanto sentido e o que me tranquiliza é lembrar que somos “aguerridos e bravos...”. Seguimos!

 


Luciele Monteiro Osório - Psicóloga

- Especialista em Transtornos da Infância e a da Adolescência na Clínica Interdisciplinar
- Especialista em Psicologia Jurídica - Ênfase(s) em Família (s)
- Especializanda em Neuropsicologia

Formada em 2008 pela Unifra, desde então atua nas áreas da Psicologia Clínica e Organizacional. Além disso é mãe da Laís, sua melhor experiência prática do desenvolvimento infantil, esposa, filha, irmã, tia, do lar... Enfim, assume multi papéis, o que é típico da mulher da atualidade.

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