COLUNAS - COMPORTAMENTO


Quando o ninho começa a ficar vazio
06/01/2023 00:00:00
 
Quem nunca ouviu ou falou a frase icônica que filhos são para o mundo? Winnicott, psiquiatra, pediatra e psicanalista infantil, sob à luz da sua teoria, fala sobre a importância dos “rompimentos dos cercados”, que é quando a criança necessita e inicia seus primeiros contatos com o mundo externo. Ele ainda argumenta que uma mãe suficientemente boa é aquela errante, portanto, que se mantém sempre preocupada em acertar e, entre erros e acertos, vai tornando-se indispensável com o passar do tempo... 
A teoria é linda! Sim e isto não é sarcasmo da minha parte. Eu, particularmente, sou apaixonada pela psicologia infantil, em especial, pela teoria Winnicottiana. Mas eu também, como mãe, sinto o quanto a realidade versus teoria é complexa e dolorida. A prática da maternagem (e da paternagem também) nos reserva, para além do amor incondicional, dor! Literalmente ter filhos e criá-los é padecer no paraíso e, dentre tantas funções, responsabilidades e fases, os momentos de separações são os mais delicados. Mesmo tendo total consciência que filhos crescem e precisamos treiná-los para tornarem-se seres autônomos, inconsciente ou inconscientemente, temos a tendência de querer mantê-los perto a nós.
Até costumo arriscar que nas adaptações escolares um tanto sofridas, por trás de uma criança que chora têm pais dispostos a abrirem as portas para um caminho sem volta, que é o da independência e que em paralelo estão lutando contra o sentimento de tornarem-se desnecessários. Mas ainda que difícil, estas primeiras separações são breves e acompanhadas de seguidos reencontros, passando a ser compreendidas, aceitas e rotineiras. 
Só que, à medida que crescem e com a chegada de novas fases, nem sempre o ir e vir é tão breve assim. E quando paro para pensar ou estudar a fase do “ninho vazio” sempre lembro da minha mãe relatando o quanto era doído, o aperto no peito que sentia ao entrar no meu quarto intacto, cama arrumada e tudo organizado... Com indícios que eu não estava mais ali, que havia voado para estudar em Santa Maria.
A síndrome do ninho vazio que é quando os passarinhos voam é assim mesmo. Dói porque é um luto. É o ápice. É a concretização de um trabalho árduo que possibilitou que os filhos não precisem mais (tanto) dos pais. Os papéis de todos nesta conjuntura devem ser ressignificados.   Filhos que precisam caminhar com as próprias pernas e pais (ou uma família inteira) que precisam redirecionar suas preocupações e olhares, inclusive, voltarem a olhar para si mesmos, para o casal, para aquilo que o cuidado para com a prole simplesmente “achatou”.
Estamos a quase um mês para o resultado do Enem, vejo faixas de calouros a um mínimo passo de adentrarem-se às Universidades, outros movimentos em busca de uma nova morada porque irão fazer cursinho em outra cidade e até, quem não irá morar fora, mas se ausentará por mais tempo de casa porque fará a graduação viajando. Toda vez que assisto, me deparo ou compartilham comigo situações assim eu logo penso que os ninhos estão esvaziando-se e que os pais estão em intensivo de preparação para este momento, sob um turbilhão de emoções.
Aos que vão, boa sorte e voem o mais alto que puder. Haverá sempre um porto seguro chamado a casa dos pais para recebê-los. Aos que ficam deixem doer. Entre alegrias, felicidade, orgulho e ansiedade, se as lágrimas insistirem em escorrer, deixem. Permitam-se sentir. E como uma tentativa de alento nesta hora, digo que se houve vôo é porque houve, também, um ótimo trabalho dos pais! 
O bom filho à casa torna. Talvez não mais como sempre, mas pais e filhos são para sempre mesmo não mais no mesmo ninho. 
Feliz nova fase a todos, que cada um se (re)encontre neste novo, necessário e saudável formato!

Luciele Monteiro Osório - Psicóloga

- Especialista em Transtornos da Infância e a da Adolescência na Clínica Interdisciplinar
- Especialista em Psicologia Jurídica - Ênfase(s) em Família (s)
- Especializanda em Neuropsicologia

Formada em 2008 pela Unifra, desde então atua nas áreas da Psicologia Clínica e Organizacional. Além disso é mãe da Laís, sua melhor experiência prática do desenvolvimento infantil, esposa, filha, irmã, tia, do lar... Enfim, assume multi papéis, o que é típico da mulher da atualidade.

ACOMPANHE

|
|
HORÁRIOS DE ATENDIMENTO

De Segundas a sextas:

• Das 9h às 12h e das 14h às 17h

Atendimento somente pelos telefones:

(55) 9.9981-8101
(55) 9.9942-1802

JORNALISMO, PUBLICIDADE e ANÚNCIOS

(55) 9.9981-8101

jornalismo@farrapo.com.br

© 2025 PORTAL FARRAPO. Todos os direitos reservados.

Desenvolvimento: