Não assisto o BBB (Big Brother Brasil), mas me senti curiosa para entender o que aconteceu entre dois participantes, Bruna e Gabriel, após grande repercussão. Assisti algumas cenas e foi quando, então, fiz a leitura do porquê de tanta repulsa: Tratava-se de um relacionamento ligeiramente tóxico, que ascendeu atenções e discussões sobre relações abusivas.
O que aconteceu lá na casa vigiada é o que acontece a todo momento e em vários lugares ao mesmo tempo, mas a diferença é que os “personagens” não estão sob avaliação de milhares de telespectadores e, em cadeia nacional. Se ao menos o reality show brasileiro servir para despertar consciência e orientação acerca do tema, terá alguma utilidade...
Mas o que configura, enfim, um relacionamento abusivo? No caso deste que trouxe em questão, em minutos, foi perceptível a hostilidade que o parceiro tratava a sua companheira. Não precisei de muito tempo para identificar traços e condutas de desprezo, de falta de empatia, de “brincadeiras” de mal gosto, falas ofensivas e atitudes agressivas, não físicas, mas verbais. Pronto, não faltavam mais ingredientes para consolidar o abuso: 1) Havia uma presa por ora frágil até mesmo pela situação de confinamento, 2) Um agressor, que coagia psicologicamente a vítima, 3) E que a responsabilizava pelas atitudes grotescas (a culpa era dela, nunca é de quem abusa) e que, ainda, 4) Sem consciência do quão estava passando do limite, sem qualquer responsabilidade afetiva.
Além do abuso em si, o que me chamou muita atenção foi o discurso e desconforto do pai da moça, que sob impotência, a via ali naquela situação sem que pudesse fazer nada. E o que fazer nestes casos? E o que fazer para evitar que isto aconteça?
Situações assim eu sempre analiso a partir de dois pontos de vistas, o de psicóloga e o de mãe. No segundo é natural que eu fique mexida e espontaneamente me reporte ao lugar do outro pai ou mãe e, tanto isto mexeu comigo que me peguei várias vezes conversando com a minha pequena sobre relacionamentos, sobre não permitir certas atitudes advindas de outras pessoas, como eu achava que devia se posicionar quando me trouxe que estava chateada, enfim, quase um intensivo de como prepará-la, desde a infância, para identificar e não se submeter, na vida adulta, a relações abusivas.
Não sou a mãe mais expert do mundo, mas a Psicologia me permite ter o conhecimento e compartilhar que tudo inicia na tenra idade. É válido abordar assuntos sobre autocuidado emocional e encorajar as crianças a dizerem “não”, a falar quando se sentem desconfortáveis ou desrespeitadas, influenciar positivamente o diálogo e expressão das emoções, potencializar a autoestima e autoconfiança valorizando, reconhecendo e verbalizando o quanto são importantes, especiais e amadas. Ainda é importante ajudá-las a identificar o que é uma brincadeira e o que deixa de ser, pois nunca será engraçado quando se é ferido ou fere alguém. Nestes casos impor limites e encorajá-las a isto é necessário desde cedo. Não podemos permitir que enxerguem estas situações com olhos de normalidade, pois nunca será normal. E por fim ir mostrando, através de exemplos e conversas de orientação, que relacionamentos saudáveis são aqueles baseados no respeito e que, sobretudo, prezam o bem-estar um do outro, tanto em relações de amizade, como entre namorados e cônjuges. Afinal, nem tudo é aceitável e esta é uma lição a ser ensinada e aprendida precocemente!
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