COLUNAS - ECONOMIA


A Inteligência Humana ainda é capaz de superar a Inteligência Artificial
25/06/2024 00:00:00

Em 1928, o cientista escocês Alexander Fleming retornou de suas férias de duas semanas e percebeu que havia cometido um grande erro. Na pressa para sair de folga, ele deixou uma pilha de placas de Petri em sua mesa. Quando começou a limpá-las, algo incomum chamou sua atenção: um mofo havia se formado ao redor das bactérias em uma delas. Ao examinar mais de perto, Fleming fez uma descoberta surpreendente. O mofo não estava apenas crescendo – ele estava inibindo ativamente a disseminação das bactérias. Essa observação levou o cientista a se perguntar se o mofo poderia ser usado para combater infecções. Nas semanas seguintes, seus experimentos com essa substância levaram ao desenvolvimento da penicilina, uma descoberta por acaso que revolucionou o tratamento de doenças infecciosas e salvando mais de 500 milhões de vidas ao longo do último século.

A história da penicilina ilustra a importância da criatividade, mesmo na era da inteligência artificial, ou “ventos contra” , como recente estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), que 40% dos empregos hoje em dia estão em risco devido ao avanço tecnológico. Com a crescente “poder” da AI o cérebro humano ainda terá uma vantagem em alguma área? A resposta pode estar na história do cientista Alexandre Fleming, na qual a capacidade de cometer erros e aprender com eles é uma fonte de inovação e restrita apenas a nós humanos. Enquanto a IA é excelente em eficiência e poder computacional, os humanos são processadores de informações lentos e, às vezes, ineficientes. Mas o que nos falta em velocidade, ganhamos em liberdade a capacidade de ignorar a sabedoria convencional em busca da originalidade. Outro exemplo é em relação aos investimentos, a AI tem grande capacidade de armazenamento, compilação e análise para indicar o melhor caminho a ser seguido, mas jamais saberá ter um pensamento não convencional e de ir contra a corrente e enxergar o que muitos nem sequer perceberam. E isso vale para outras áreas, como o jornalismo, embora a inteligência artificial possa tornar o processo de apuração mais eficiente, simplesmente reproduzir comunicados de imprensa de empresas e compilar dados existentes não renderá nenhum prêmio de jornalismo. Dedicar tempo, conversar com fontes, ir pessoalmente até o local muitas vezes é necessário para chegar às raízes mais profundas de uma história. Um jornalista pode, por exemplo, detectar um tique nervoso ou ler certos sinais visuais de um CEO cauteloso, o que pode inspirá-lo a investigar mais a fundo. Ou talvez um encontro com uma fonte possa deixá-la confortável o suficiente para compartilhar informações sensíveis. A importância de habilidades como estas – como compaixão, inteligência emocional, sensibilidade intercultural e pensamento estratégico – está aumentando. No mínimo, elas se tornarão cada vez mais raras em um cenário dominado por sistemas de IA. A tecnologia ainda não é capaz de interpretar dinâmicas sociais complexas.

 


Mateus Sangoi Frozza - Economista

Economista e Professor da Universitário.

Foi Coordenador dos cursos de Ciências Econômicas e Administração da Universidade Franciscana (UFN).

Secretário de Finanças no Município de Santa Maria (2019/2021).

CEO da Tride3 Consultoria e Treinamentos

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