Que a tecnologia abriu portas e expandiu horizontes para que pessoas de todo o mundo criem laços de proximidade, apesar da distância física, não é mais segredo para ninguém. De fato, quando olhamos todos os benefícios da comunicação digital atual, sejam em termos de disponibilidade, possibilidades e agilidade, é quase impossível não ficar maravilhado com a força que a Internet, as redes sociais e canais exercem em nosso cotidiano.

Quando comecei nesta aventura nos idos de 1996, ainda era estagiário em uma empresa, portanto, posso seguramente me apropriar da popular frase: “No meu tempo, isso aqui era tudo fazenda”.  Um fax-modem de 14.400bps estridente abria as portas para um mundo totalmente novo, pouco explorado e cheios de dúvidas e fascínios.

As pessoas eram notoriamente mais inocentes, desbravando páginas, fóruns e chats ainda em processo de formatação conceitual e podia-se acreditar que em algum lugar do planeta, aquele alguém com quem estava conversando era realmente quem dizia ser.

Porém, como tudo na vida é cíclico, sempre haverão mudanças. Com o advento de avatares, qualquer pessoa podia ser quem quisesse, sem se preocupar com julgamentos ou rótulos.  Na verdade, mascarando-se por detrás de um alter-ego, era mais fácil identificar outros com mesmos gostos, preferências e assuntos.  Se fosse apenas isto, ainda estávamos em um campo gerenciável de expectativas versus realidade.

O tempo passou, a sociedade sempre em mutação, comportamentos e tendências vão e vêm, e com tanta informação por segundo, fica cada vez mais difícil identificar o que é genuinamente real ou fake.  Principalmente em relação às próprias pessoas.

Vemos principalmente jovens nesta corrida desenfreada por cliques,  likes e “mutuals” em suas bolhas vivendo uma vida artificial, se perdendo muitas vezes em sua própria essência.

O mercado da fama rápida, do desejo de se sentirem pertencentes a algo ou de um determinado grupo despertou um gatilho perigoso nas suas próprias percepções de realidade.

Isso sem contar nos infindáveis casos de pessoas que dizem ser profissionais de determinada área, aproveitando-se da boa fé daqueles que não possuem a mesma maturidade digital para aferir a veracidade das informações ditas.  Vimos recentemente o caso do falso médico preso em Torres acusado de aplicar o “golpe do amor” em senhoras.

Num momento onde se fala tanto em fake news, esquecemos que precisamos ficar alertas contra as "fake people", que podem ser tão danosas quanto uma notícia duvidosa, pois nos atingem diretamente no emocional, quando não no financeiro também, e nos fazem duvidar de nossa própria natureza.

Como profissional de tecnologia alerto a todos para que desconfiem de certos padrões de comportamento de pessoas novas ou já presentes em suas vidas como:  amizades fáceis demais, pessoas que chegam até você  gostando exatamente de tudo que você gosta, que jamais discordam ou que pedem aquele favorzinho despretensioso e aos poucos vão se aproveitando de sua boa vontade, sem contar os conselheiros de ocasião, especialmente em ambientes de trabalho.

Para quem possui Netflix sugiro quatro documentários que vão provocar uma verdadeira revisão da sua lista de contatos, bem como de suas redes sociais, e certamente acenderão aquela luz de alerta em suas atitudes no dia a dia.  Seguem eles:

1) O Golpista do Tinder:  Neste documentário, mulheres relatam como foram seduzidas por um falsário que possuía métodos praticamente infalíveis de convencimento para alimentar uma vida de luxos e mentiras.

2) Inventando Anna: Outro ótimo documentário sobre uma garota que engana a elite de Nova Iorque se passando por uma herdeira alemã.

3) VIPs: Histórias Reais de um Mentiroso:  Produção nacional, este documentário relata os passos de Marcelo Nascimento da Rocha, um dos maiores casos de falsidade ideológica e engenharia social do Brasil.

4) O Dilema das Redes: Fantástico documentário que expõe como nossas informações podem ser usadas contra nós mesmos pelos detentores do poder dos grandes conglomerados de mídias sociais e comunicação.

Após assistir estas quatro produções sugiro que analise também o quanto das suas informações pessoais, gostos e hábitos estão expostos para o mundo e sempre que possível faça uma limpeza em seus dispositivos para evitar situações desagradáveis oriundas de um eventual extravio ou furto.

Em um mundo cada vez mais fake, o perigo se mostra cada vez mais real.