O ex-governador do Rio Grande do Sul Alceu Collares morreu na madrugada desta terça-feira (24), aos 97 anos. Ele estava internado desde o dia 16 deste mês no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, com pneumonia. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos.
Na segunda-feira (23), o hospital havia informado que o estado de saúde do ex-governador tinha piorado e que seu quadro era gravíssimo. Collares estava no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do Mãe de Deus. Ele era portador de enfisema pulmonar havia oito anos. O óbito ocorreu às 2h40min desta terça.
“O Hospital Mãe de Deus comunica com pesar o falecimento do ex-governador Alceu de Deus Collares nesta terça-feira (24), às 2h40min, em decorrência de falência múltipla de órgãos. Aos 97 anos, ele havia sido internado no dia 16 de dezembro. Consternados, expressamos nossas condolências à família e amigos, compartilhando a dor pela perda”, informou o hospital.
Casado com Neuza Canabarro, ex-secretária estadual da Educação, Collares é o único governador negro eleito na história do Estado. Natural de Bagé, na Região da Campanha, ele comandou o Palácio Piratini de 1991 a 1995.
Liderança do PDT gaúcho, Collares também foi prefeito de Porto Alegre, de 1986 a 1989, vereador e deputado federal. Ele era formado em Direito pela Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
PDT
O PDT/RS lamentou a morte do político. “É com grande tristeza que a Executiva Estadual do PDT/RS comunica o falecimento de Alceu de Deus Collares, um dos maiores líderes políticos do Rio Grande do Sul e do Brasil. Natural de Bagé, nascido em 7 de setembro de 1927, Collares dedicou sua vida à luta por um Brasil mais justo e igualitário, marcando a história como um dos mais brilhantes defensores do trabalhismo. Foi um dos principais discípulos de Leonel Brizola, com quem compartilhou sonhos e batalhas na construção de uma sociedade mais humana e democrática. Collares teve uma carreira política notável e pioneira. Filho de pais analfabetos, aprendeu a ler na infância, mas deixou a escola para vender frutas e ajudar no sustento da família. Em 1941, começou a trabalhar como carteiro nos Correios e Telégrafos. Em 1956, após terminar o ensino médio, passou no vestibular da Faculdade de Direito da UFRGS e se mudou para Porto Alegre. Aqui, atuou como telegrafista e professor, graduando-se em Direito em 1961. Nesse período, se interessou mais ativamente pela política e passou a acompanhar os discursos de Leonel Brizola, o governador gaúcho que viria a ser seu aliado e colega de partido”, afirmou a sigla.
O PDT gaúcho ressaltou a trajetória política de Collares. “Em 1963, Collares foi eleito para seu primeiro cargo público, o de vereador de Porto Alegre pelo PTB. Com o golpe de Estado em 1964 e a imposição do bipartidarismo, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro. Reeleito vereador em 1968, foi eleito deputado federal em 1970 em sua segunda tentativa, com a segunda maior votação a nível estadual. Na Câmara dos Deputados, defendeu medidas mais rígidas contra a ditadura militar e a ampliação da distribuição de renda. Em 1974 e 1978, reelegeu-se deputado federal com as maiores votações. Ao todo foram 5 mandatos na Câmara dos Deputados. Em 1980, com a volta do sistema multipartidário, filiou-se ao PTB e, logo após, ao Partido Democrático Trabalhista, PDT, partido ao qual é um dos fundadores. Em 1985, Collares foi eleito prefeito de Porto Alegre no primeiro pleito realizado diretamente desde a ditadura e fez história ao se tornar o primeiro prefeito negro de Porto Alegre, em uma administração inovadora e popular. Em 1990, elegeu-se governador com 61% dos votos, vencendo Nelson Marchezan. Neste cargo, que ocupou até 1995, criou os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes), implementou uma reforma administrativa e uma revolução na educação, que incluiu a construção de diversos Cieps. Mais uma vez, quebrou barreiras ao ser eleito o primeiro governador negro do Rio Grande do Sul, liderando o Estado com coragem e determinação, sempre guiado pelos ideais do trabalhismo e pela busca constante de justiça social”, afirmou a legenda.
“Além de sua destacada carreira política, Collares também foi advogado, orador talentoso e figura chave na criação e fortalecimento do PDT no Rio Grande do Sul e no Brasil, servindo como exemplo para várias gerações de militantes. Seu compromisso com o legado de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola foi a base de uma vida pública caracterizada por batalhas em favor da educação, da igualdade e do progresso social. Como uma das poucas figuras negras proeminentes na política brasileira, Collares sempre defendeu as questões raciais e sociais à luz do trabalhismo, buscando a igualdade, o resgate e a justiça social. Antes da década de 1980, muito poucos negros eram líderes em partidos nacionais ou tinham sido eleitos para o Congresso. Adalberto Camargo, de São Paulo, e Alceu Collares, do Rio Grande do Sul, são os dois raros exemplos de parlamentares federais negros nos anos 1970. Somente em 1982, o Rio de Janeiro elegeu pelo PDT os deputados negros Abdias do Nascimento e Carlos Alberto Caó. Aos 97 anos, Collares deixa um legado de dedicação, resistência e amor ao povo gaúcho e brasileiro. Seu exemplo seguirá nos inspirando na construção de um Brasil mais solidário e democrático. Neste momento de tristeza, o PDT/RS expressa sua solidariedade aos familiares, amigos, companheiros e companheiras pedetistas, seu eleitores e eleitoras que há muitas décadas depositaram sua confiança nas urnas e também a todos que admiram e respeitam sua trajetória. O Rio Grande do Sul perde um líder, mas a história nunca esquecerá sua bravura e compromisso com o povo”, prosseguiu o partido.
Velório
O velório de Collares, aberto ao público, ocorre nesta quarta-feira (25), das 11h às 16h, no Palácio Piratini. O sepultamento será realizado no Cemitério Jardim da Paz, na Capital. O governador Eduardo Leite decretou luto oficial de três dias no Estado.
Jornal O Sul
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