
O preço do gado gordo aumentou 1,4% na semana passada em relação à anterior, de R$ 10,85 para R$ 11 o quilo, e a tendência é que ocorram mais valorizações até o término de dezembro. E, tradicionalmente, a tendência de final de um ano se repete no começo do período seguinte. A avaliação é do professor Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Nós esperamos um sobrepreço em torno de 5% a 7% até 12 a 15 de dezembro, o que seria um preço já mais razoável. E o importante para o pecuarista é que este preço marca o início do ano 2026”, descreve. Segundo ele, sempre a cotação de 20 de dezembro é a mesma que determina a abertura do mercado em janeiro.
Entre as razões da melhora nas cotações está a crise na agricultura gaúcha, que levou muitos produtores de grãos a se desfazer de animais para melhorar o caixa, visto uma série de dificuldades nas lavouras, como perdas de colheitas para estiagens, o consequente endividamento e a dificuldade de acessar crédito para realizar a safra de verão.
“A crise na agricultura está levando muitos pecuaristas que têm grãos e não receberam, ou que colheram mal. Ou muitos agricultores que também têm gado e que agora estão sem crédito. E a securitização que não saiu como era esperada pelos agricultores forçou a uma venda exagerada, acima dos limites aceitáveis de matrizes”, descreve Barcellos.
Desta forma, explica, a “grande avalanche” de gado historicamente colocado à venda na pecuária gaúcha em setembro acabou comercializado em outubro e novembro. “Mesmo assim não foi suficiente para evitar a subida de preços”, diz. “Além disso, a arroba no Brasil-Central está estabilizada, mas o ciclo pecuário começa a dar sinais de reversão e entrando numa fase de alta.
Então, os sinais são muito positivos”, complementa. “Ainda acreditamos que até 15 de dezembro ocorram novas majorações e o pecuarista deve estar preparado para isso, otimizando um pouco os seus resultados, porque a pecuária vem saindo de uma crise também de alguns anos”, sugere.
Menos carne do Centro-Oeste
Barcellos acrescenta que o Brasil-Central está majorando a carne produzida na região, o que diminui um pouco a entrada do produto mais barato no varejo gaúcho, e isso estimula o consumo de carne local, valorizando ainda mais os produtos certificados de marca.
“A proximidade das festas de final de ano, as confraternizações, tudo isso gera uma maior capacidade de compra, como a entrada do 13o (salário) e outras bonificações por muitas empresas, e vai favorecer um aumento de consumo”, complementa.
Barcellos acrescenta outro aspecto positivo para o mercado da carne gaúcha: o aumento das vendas externas de animais vivos. “O comércio de gado em pé no Rio Grande do Sul está muito firme. Mudou um pouco este mercado. Em vez de levarem terneiros, agora estão levando animais muito próximos do abate, o que também acaba concorrendo com a indústria frigorífica de abate do Rio Grande do Sul”, afirma. E também há aumento das exportações de carne e a conquista de novos mercados.
“Por outro lado, a possibilidade de comercializar gado no mercado futuro lançado por uma indústria local também valoriza, estimula e dá previsibilidade, apontando 2026 como um ano muito promissor para a pecuária de corte”, acrescenta.
A valorização da arroba se deu no decorrer de 2025. “O preço do gado gordo em todo o ano de 2025 se manteve muito firme, sem grandes oscilações, sempre seguindo uma curva de tendências que nós projetamos (previsão feita anualmente pelo NESPro)”, revela.
O professor lembra que a exceção ocorreu pelo ‘tarifaço’ de Donald Trump, que criou “sinais de pessimismo”, período em que a indústria frigorífica se aproveitou para “deprimir os preços”. Mas a queda ocorreu durante apenas duas semanas, e depois o gado recuperou os preços. “E entramos o mês de setembro de uma forma muito firme, quando historicamente os preços caem pela avalanche de gado que sai das pastagens”, explica.
“Então temos boas perspectivas e o pecuarista deve apostar nestas últimas duas quinzenas até o Natal como um período promissor”, sintetiza Barcellos o cenário. “Além disso, agora o gado escasseou, não tem mais vacas gordas para inundar os frigoríficos porque os períodos de plantio e de safra já estão se aproximando do final e isso leva a uma menor necessidade de venda de gado, o que também já tem muito pouco, porque a maioria do gado já foi vendido de forma abrupta no final de setembro e outubro”, complementa.
Fonte: Correio do Povo
Foto : Joseani Antunes Mesquita / Embrapa / CP
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