Prejudicado desde a semana passada por excessiva umidade do solo, o atraso do plantio do trigo no Estado deverá aumentar com as fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul a partir de terça-feira, 17.
Ainda que tenha avançado de 12% para 37% da área prevista, entre os dias 12 e 18 de junho, conforme o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar, a semeadura na atual safra está dez pontos percentuais abaixo do registrado no mesmo período do ciclo anterior.
O levantamento da Emater indica que a implantação da lavoura, sempre considerando a área projetada, varia de 30%, na região de Bagé, a 55%, na de Pelotas. Na região de Santa Maria, “os produtores aguardam melhores condições climáticas para realizar a semeadura na maioria dos municípios”, informa o estudo.
“Esse atraso se dá em razão das chuvas, da baixa luminosidade e excesso de umidade no solo. As chuvas que estão acontecendo nessa semana acentuam o atraso”, diz o diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Claudinei Baldissera.
Janela curta
Enquanto aguardam que o tempo melhore e que se estabeleça a umidade adequada para dar andamento ao cultivo, os triticultores calculam a redução da janela preferencial para plantio do grão. Nas principais regiões produtoras do Estado, como Missões, Nordeste, Noroeste e Planalto Médio, a janela preferencial se estende pelo mês de junho, sendo considerada curta.
Para Baldissera, ainda é cedo para afirmar que a diminuição da janela possa provocar perdas na qualidade e no desenvolvimento da lavoura, mas o diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, tem outra avaliação.
“A janela fica mais curta, os riscos ficam maiores e, o que é pior, plantando mais tarde nestas regiões que deveriam praticamente estar com o trabalho quase concluído”, diz Jardim. Para o diretor da Farsul, a situação ameaça comprimir os ganhos do agricultor, “para uma cultura que deixa uma margem de rentabilidade muito pequena”.
Outras dificuldades
Jardim acrescenta ainda outros fatores que “aumentam o risco da aposta num ano muito complicado”, como a baixa oferta de crédito com juros controlado, o alto custo do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e a cobertura limitada e cara das apólices de seguro agrícola. Baldissera igualmente destaca a dificuldade de acesso ao crédito.
“Grande parte das lavouras não está sendo feita com aporte de recursos de custeio. O agricultor está utilizando o recurso próprio e na disponibilidade daquilo que ele tem”, afirma Baldissera.
O cenário estimula Jardim a prever que a redução da área de plantio do trigo na safra 2025/2026 será superior aos 10% estimados pela Emater.
“Eu não acredito numa área no Estado superior a 1,1 milhão de hectares”, afirma Jardim, contra os 1,19 milhão de hectares projetados pela empresa de assistência rural.
O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, projeta um recuo significativo no uso da tecnologia por parte do produtor gaúcho. Pires destaca a desmotivação devido ao alto endividamento e falta de perspectiva de renda. “No lugar de resiliência, o produtor está desestimulado”, diz.
Correio do Povo
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