O publicitário Ricardo Jardim, de 66 anos, que esquartejou a namorada e deixou parte do corpo dela em uma mala na Rodoviária de Porto Alegre, manteve os restos mortais por cinco dias em uma geladeira na pousada onde os dois moravam, na zona Norte. A informação foi divulgada nesta terça-feira, em coletiva da Polícia Civil.
“A intenção dele era manter o corpo e, assim, elaborar com calma o que faria com os restos mortais, onde espalharia as partes. Foi por isso que os membros foram deixados em uma geladeira, dentro do apartamento onde a vítima morava”, disse o delegado André Freitas, interino da 2º Delegacia de Homicídios, que esteve à frente da investigação.
De acordo com Freitas, o crime ocorreu entre os dias 8 e 9 de agosto. Também nesse intervalo, o suspeito comprou luvas, lona e uma serra. Já em 14 de agosto, ele adquiriu a mala em que o corpo da mulher seria deixado, seis dias depois, em 20 de agosto, no guarda-volumes da rodoviária.
Com a lona, ainda segundo apuração policial, o suspeito teria forrado o chão do imóvel. A intenção seria evitar que outros moradores da pousada ouvissem os ruídos do esquartejamento, que teria sido feito com o uso da serra, disse a Polícia Civil.
Jardim já havia sido preso em 2018, quando foi condenado a 28 anos de reclusão por matar e concretar a própria mãe. Conforme o delegado André Freitas, a ideia de esquartejar uma pessoa teria surgido durante o cumprimento da pena, a partir do convívio com outro apenado.
"Perguntamos ao suspeito se ele havia se inspirado em algum filme ou livro para cometer o crime. Ele negou, porém, disse que, enquanto esteve preso, dividiu cela com um homem que havia esquartejado outra pessoa. Isso o teria influenciado na maneira de cometer outros crimes", pontuou André Freitas.
Quem era a vítima
A vítima foi identificada como Brasilia Costa, de 65 anos, que trabalhava como manicure. Ela era natural de Arroio Grande, no Sul do Estado. O irmão dela é sargento da Brigada Militar, da reserva.
Conhecida como Bia, ela também era vizinha de Jardim, que residia em uma pousada no bairro São Geraldo. Os dois mantinham um relacionamento amoroso há seis meses.
Quando foi preso, em 4 de setembro, Jardim alegou que a vítima teria morrido após sofrer mal súbito. Também teria dito que, por receio de ser incriminado, decidiu esquartejá-la.
Jardim segue preso preventivamente na Penitenciária Estadual de Charqueadas II. Antes disso, ficou por três dias no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), onde passou por audiência de custódia. Segundo a Defensoria Pública, que o representou na sessão, caso Jardim não constitua advogado particular, o órgão irá atuar na defesa dele e se manifestará somente nos autos do processo.
Entenda a dinâmica do crime
Cerca de quatro dias após o crime, em 13 de agosto, a vítima teve pernas e braços deixados em um saco de lixo no bairro Santo Antônio, na zona Leste. Em 20 de agosto, a mala com o tronco foi deixada no guarda-volumes da rodoviária, em nome e endereço de uma pessoa que trabalha em um escritório de contabilidade, em Canoas, mas que nada tem a ver com o crime.
As duas pernas da mulher foram encontradas, respectivamente, entre os dias 6 e 7 de setembro, na zona Sul da Capital. A primeira destas apareceu, na orla do bairro Ipanema, entre a areia e a água, onde foi avistado por um trabalhador do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Outra, surgiu na orla do Guaíba, perto da avenida Edvaldo Pereira Paiva, sendo localizada por um pescador.
Mesmo antes da comprovação por DNA, já era consenso entre as autoridades que as pernas eram da mulher que foi esquartejada. Isso porque, de maneira informal, o preso teria dito aos investigadores que arremessou as partes em um arroio no bairro Cristal, que deságua no Guaíba.
Cabeça teria sido descartada em lixo
A Polícia Civil ainda procura a cabeça da vítima. Internamente, há nas equipes hesitação quanto às buscas. Isso ocorre porque, informalmente, o criminoso teria dito aos policiais que descartou a parte em um lixo orgânico no entorno do Gasômetro.
O receio dos agentes é que um caminhão de coleta tenha recolhido o entulho e que, por isso, o membro possa ter sido triturado junto aos resíduos. O destino desse conteúdo é um aterro em Minas do Leão, na Região Carbonífera.
Motivação financeira
O delegado André Freitas afirmou que o preso estava foragido desde abril do ano passado. Nesse intervalo de tempo, era sustentado com a ajuda da namorada, apesar de ter formação como publicitário. A suspeita é que o crime tenha sido cometido por motivação financeira.
"Acreditamos que o criminoso agiu com motivações financeiras. Ele estava foragido, ou seja, em uma situação complicada para ganhar dinheiro. Sabemos que a mulher fez transferência de valores ao companheiro durante todo o relacionamento. Além disso, depois do crime, o homem ainda realizou saques bancários com os cartões da vítima”, destacou Freitas.
Correio do Povo
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