Capital com a maior índice de abstenção nas eleições municipais de 2024, Porto Alegre registrou a ausência de 345 mil eleitores no primeiro turno do pleito, 31,51% dos aptos a votar. Parte desses números pode ser resultado das enchentes que assolaram o Estado, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS), durante o primeiro dia do seminário “A Abstenção nas Eleições Municipais de 2024: causas, consequências e desafios”. O aumento da abstenção, no entanto, tem vários fatores, segundo o TRE.

Das duas regiões da Capital com o maior número de abstenções, uma delas inclui alguns dos bairros que mais sofreram com os alagamentos, como a região das Ilhas e os bairros Sarandi e Humaitá. A outra região, porém, engloba os bairros mais pobres da cidade, como a região dos morros e a Vila Cruzeiro.

“É o cinturão da pobreza que temos na cidade”, descreveu o secretário de tecnologia da informação do TRE-RS, Daniel Wobeto.

Os dados, somados à análise de que o índice de abstenção no RS é maior em pessoas com menor grau de instrução, levou a juíza eleitoral Patrícia Fraga Martins a afirmar, categoricamente, que “a enchente não foi a causa da abstenção”. Isso porque os esforços da Justiça Eleitoral para que as eleições ocorressem para aqueles que foram afetados foi, na sua análise, um sucesso.

“Conseguimos realizar a eleição com toda a infraestrutura necessária. Não houve prejuízo para nenhum dos eleitores. Eu realmente acredito que são causas de escolha do eleitor. É muito mais uma convicção pessoal do que um problema estrutural e isso é muito pior.”

As justificativas, ou a ausência delas, complementam a análise da juíza. O número de eleitores que justificaram a ausência não aumentou com o número de abstenções. Segundo Wobeto, 80% das pessoas que não compareceram às urnas optaram por pagar multa e não se justificar.

Os argumentos para ausência mudam entre as zonas eleitorais, e vão de viagem e problemas de saúde até protesto.

Dados da abstenção:

• O número de abstenção é proporcional ao número de eleitores, ou seja: cidades pequenas não enfrentam grandes abstenções.
• Em Porto Alegre, Caxias do Sul, Lajeado e Eldorado, cerca de 13% dos eleitores que justificaram a ausência estavam ao alcance da urna eletrônica.
• Eleitores ausentes por três pleitos seguidos terão título cancelado. Em 2025, expectativa é de que o número de cancelados seja de mais de 300 mil no RS.
• Maioria dos eleitores que terão o título cancelado são aqueles com grau de instrução mais baixo.

Correio do Povo